'Eles não estão fazendo nada de ilegal, estão apenas sendo adolescentes'

Garantir a segurança do público que frequenta o shopping. Este foi o motivo que levou a administração do Royal Plaza a identificar adolescentes que, desde a última sexta-feira, só podem entrar no local acompanhados por pessoas que tenham mais de 18 anos. O assunto, que ainda  rende polêmica nas redes sociais, rodas de conversa e até mesmo no interior do estabelecimento abriu margem para a seguinte discussão: a medida é mesmo apenas uma questão de segurança ou pode ser considerada preconceito?

O sociólogo e professor da UFSM Francis Moraes de Almeida destaca que não houve um arrastão, por exemplo, que levasse à tomada de decisão. Para o professor, há uma sensação de medo maior do que o motivo que leva as pessoas a sentirem medo. Conforme ele, essas são características do que se chama de pânico moral:
- O que levou à decisão foram boatos. Há poucas semanas, presenciamos um linchamento em São Paulo que começou com boatos, e os boatos são intensos. O rolezinho não é um fenômeno de agora: desde que abriu o shopping, os jovens ficam lá. Parece que o shopping enfrenta uma dificuldade de lidar com adolescentes. Os jovens que estão na fila do cinema tem de ficar quietos como se estivessem em uma prisão do século 19? Não, eles não estão fazendo nada de ilegal, estão apenas sendo adolescentes. Quantos casos tivemos para justificar essa medida tão extrema? O que há de tão incômodo para justificar essa restrição?

Conforme o professor, levando-se em conta o sentido literal da palavra discriminar - que é tratar diferente - a medida pode ser sim considerada discriminatória. Ele ainda observa que algumas pessoas têm dificuldades de conviver com o comportamento adolescente:
- A minha impressão é que essa situação pode se caracterizar como pânico moral, que é um extremo medo desproporcional ao que origina esse medo. Há um grupo estigmatizado como a causa do medo, e esta decisão me parece ser uma resposta desproporcional a esse grupo. Se levar em conta que Santa Maria é uma cidade jovem, podemos crer que há uma parcela de pessoas incomodadas com a presença de jovens, o que, mais uma vez, causa a impressão de pânico moral.

Especialista diz que movimento existe há mais de 50 anos

Para José Otávio Binato, médico de adolescentes, vale lembrar duas coisas: a primeira, é que o 'rolezinho' existe há anos, e a segunda é que a decisão do Royal lança uma importante discussão sobre a educação.
- Há 50 anos, a gente chamava o rolezinho de "foot". Ficávamos no Calçadão e na frente do cinema, esperando as gurias passarem. O rolê não é novo, o que é novidade é essa situação.
Jovens organizam encontros pelas redes sociais, com palavras que demonstram violência. É uma violência possível. A medida do shopping é preventiva, não proíbe ninguém de entrar. Não é uma questão elitista, não vejo preconceito, é uma questão de educação. O shopping lançou uma discussão que é "quem cuida dos nossos filhos?". O problema não é a circulação, mas a possibilidade de violência - argumenta.

Os motivos que levaram à decisão

A administração do shopping explica que não se trata de uma medida preconceituosa, já que  vale para todos adolescentes, independentemente da aparência ou do poder aquisitivo.

Conforme a administração, a entrada identificada também serve para adolescentes que chegam de carro e acessam o shopping pelo estacionamento. Mas a flexibilização das exigências já está sendo estudada.
- Claro que a decisão foi tomada pensando em segurança. Temos crianças pequenas circulando, pessoas de idade. Registramos vários comentários feitos na internet que falam de violência, tivemos um episódio quando um adolescente disparou o alarme de incêndio irresponsavelmente. Às vezes, parece que a meninada não tem consciência do que está fazendo. Temos um problema social grande, não temos a pretensão de resolvê-lo, mas queremos discutir - explicou Rui Giffoni, administrador do Royal Shoppin